terça-feira, 23 de junho de 2009

Líderes, gerentes ou chefes.


RENATO JANINE RIBEIRO

Por Folha de S. Paulo, 16 de janeiro de 2009 12:54.

FHC e Lula definiram um alto padrão para a função presidencial: o de líder. É o que torna difícil imaginar Dilma na Presidência. Pode ser uma boa gerente de projetos, mas não é uma líder que mobilize as pessoas. A qualidade dos dois últimos presidentes é outra: persuadir, unir, em suma, liderar.
Um presidente tem de ir além do seu partido, ele precisa lidar com um país complexo e liderar, em última análise, o próprio Brasil. Imaginemos, em seu lugar, um chefe. Fernando Haddad disputa esse papel. É o único ministro importante que tem mídia constante e favorável. Defende uma causa nobre (educação), enquanto Dilma se dispõe, para ter energia no rio Madeira, a sacrificar bagres.
Mas um chefe não é um líder. Um chefe dá ordens, nomeia, demite. Um presidente, não.
O único ministro que Lula demitiu diretamente -Cristovam Buarque, por celular- lhe custou caro.
Quem chefia um ministério pode querer que ele seja homogêneo. Já um presidente administra ministros em conflito e, além disso, precisa de pontes com a oposição.
O presidente da República, embora poderoso (ainda bem, senão viraria refém dos parlamentares), precisa unir da esquerda do PT até Delfim Netto.
Em suma, o Brasil colocou a política acima da gerência. Acho isso bom.
Custa alguma coisa deixar a gestão em segundo plano, mas custaria ainda mais gerir sem apoio político. Não bastam só na democracia, técnicos no poder funcionaram na ditadura.

RENATO JANINE RIBEIRO, tem 59 anos, é professor titular de ética e filosofia política na USP. Foi professor visitante na Universidade Columbia e diretor da Capes (2004-2008).
Folha de S. Paulo (15/1/2009)

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